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Liberdade, Sempre!

“Ser pela Liberdade não é apenas tirar as correntes de alguém, mas viver de forma que respeite e melhore a vida dos outros.” Esta citação do desaparecido Nélson Mandela sintetiza aquilo porque os homens de Abril lutaram e os portugueses aspiraram no dia 25 de Abril de 1974.

Liberdade, direito de proceder ou agir conforme nos pareça o melhor para nós, desde que esse direito não vá contra os direitos de outrem e sinónimo de independência do ser humano, foi reconquistado há 40 anos atrás.

Depois de a nossa Liberdade ter sido condicionada pelo golpe militar de 28 de Maio de 1926, que culminaria com a eleição presidencial do Marechal Óscar Carmona, os portugueses viriam aos poucos perder a sua Liberdade, pois foi com este Presidente que conhecemos e vivemos um período que ficou conhecido como Ditadura Nacional. Deste período, saiu a Constituição de 1933 que viria a dar inicio a um outro período que só terminaria com o 25 de Abril de 1974, o Estado Novo.

António de Oliveira Salazar liderou a maioria deste período (até 1968) e depois seria Marcelo Caetano, com algumas tentativas de “branqueamento” do regime ditatorial, com a sua Primavera Marcelista a liderar o ditatorial Estado Novo, até ao dia 25 de Abril de 1974. Durante esses anos, os ditadores governamentais controlaram o país através do partido único designado por União Nacional.

Durante o Estado Novo, Portugal foi sempre considerado nacionalmente (até pelos próprios dirigentes do regime) e internacionalmente como um país governado por uma ditadura. Durante este período chegaram a existir eleições, que não eram universais e que sempre foram consideradas fraudulentas pela oposição. Um exemplo disso são as eleições de 1958, quando o General Humberto Delgado, convidado pelos opositores ao regime de Salazar se candidatou à Presidência da República contra o candidato do regime, Américo Tomás. Reunindo em torno de si toda a oposição ao Estado Novo, tem uma campanha eleitoral extraordinária, mas o resultado eleitoral não lhe seria favorável graças à gigantesca fraude eleitoral que foi montada pelo regime ditatorial. É destas eleições que sai a sua célebre frase “obviamente, demito-o”, aquando de uma conferência de imprensa no café “Chave de Ouro”, em Lisboa.

Qualquer tentativa de reforma política era impedida pela inércia do próprio regime e pelo poder da sua polícia política (PIDE - Polícia Internacional de Defesa do Estado).

Economicamente, o regime manteve uma política de condicionamento industrial que protegia certos monopólios e certos grupos industriais e financeiros e assim o país permaneceu pobre até à década de 1960. Uma grande consequência dessa pobreza originou um aumento significativo da emigração, com especial destaque para a França. Contudo, é durante a década de 60 que se notam alguns sinais de desenvolvimento económico com a adesão de Portugal à EFTA (Associação Europeia de Comércio Livre), entidade europeia que também esteve na criação da CEE (Comunidade Económica Europeia). Mas essa melhoria, não melhorava o espírito dos Portuguese que desejavam liberdade, democracia e acima de tudo que os seus não morressem nas guerras que se desenrolavam nas nossas coloniais africanas.

A administração das colónias e as guerras custavam a Portugal um pesado aumento percentual anual no seu orçamento e tal contribuía para o empobrecimento da economia portuguesa, pois o dinheiro era assim desviado dos investimentos infra-estruturais que tanto o Portugal Continental necessitava.

Ao mesmo tempo, a guerra colonial tornava-se um tema forte de discussão por parte da oposição à ditadura do Estado Novo e perante isto e o subdesenvolvimento do país, muitos estudantes e opositores viram-se forçados a abandonar o país para escapar à guerra, à prisão e à tortura.

Mas, voltando à palavra Liberdade, pode-se mesmo dizer que ela voltou a começar a renascer em Portugal por volta das 22,45h do dia 24 de Abril, pois foi a essa hora que foi dado o sinal de inicio da operação daquela que ficou mundialmente conhecida, como a Revolução dos Cravos. Sinal, que foi feito através da rádio com a canção, “E Depois do Adeus”. Estava lançado o sinal de início das operações militares, com estes a tomarem as suas primeiras posições. Poucas horas depois é dado o segundo sinal, este é dado às 0h20 m, quando a canção “Grândola, Vila Morena” é transmitida pela Rádio Renascença, que confirma o golpe e marca o início das operações.

Durante o dia 25 de Abril de 1974, os militares golpistas, auto denominados Movimento das Forças Armadas (MFA) são comandados, secretamente, a partir do Quartel da Pontinha, em Lisboa. A par das movimentações na capital, também no Porto os militares tomam posições, ocupando o Quartel-General da Região Militar do Porto, o Aeroporto de Pedras Rubras e as instalações da RTP, em Vila Nova de Gaia.

Em Lisboa, caberia o papel mais importante aos homens da Escola Prática de Cavalaria de Santarém, comandados por Salgueiro Maia. O primeiro objectivo foi ocupar o Terreiro do Paço e os ministérios ali existentes, depois foi a deslocação dos soldados para o Quartel do Carmo, aonde se encontrava o chefe de estado, Marcelo Caetano. Este acaba por se render, já no final do dia, aos militares revoltosos, com uma única exigência. Só o faria perante o General António Spínola, pois este não fazia parte do movimento revolucionário (MFA). Marcelo Caetano afirmava que assim “o poder não caía nas ruas”. Depois da entrega do poder, este é transportado para a Madeira e daí partiria para o Brasil, na condição de exilado.

Durante todo o dia da revolta militar, foram tomados e controlados outros objectivos militares e civis, em todo o país. Os militares nunca tiveram confrontos armados, mas é claro que houve várias situações tensas ao longo do dia. A Revolução dos Cravos foi relativamente pacífica e só não foi em toda a sua totalidade, por causa da morte de 4 civis, que ao irem manifestarem-se para a frente das instalações da PIDE (Polícia de Investigação e Defesa do Estado) foram atingidos por balas disparadas por agentes que se encontravam no seu interior.

Neste dia, o Cravo tornou-se um símbolo de Liberdade e tal deveu-se á espontaneidade de uma florista de Lisboa que começou a distribuir cravos vermelhos pelos populares e que estes depois começaram a oferecer aos soldados. Estes colocaram-nos nos canos das espingardas e muitas dessas imagens passearam pelo mundo, fazendo com que a imprensa estrangeira chamasse à acção militar do 25 de Abril, como a Revolução dos Cravos.

A Liberdade tinha sido conquista, mais de 40 anos de um regime autoritário e fascista que nos tinha governado em ditadura, tinha terminado. O dia 25 de Abril de 1974 ficará, para sempre, na história como o dia em que Portugal deu os seus primeiros passos em direcção à democracia e em que a Liberdade tinha regressado a Portugal para trilhar os caminhos da Democracia.

A Liberdade e a Democracia conquistadas pelos militares de Abril, levam a que um ano depois (25 de Abril de 1976), finalmente os Portuguese possam novamente votar em eleições livres e transparentes ao fim de várias décadas. A Liberdade de escolher, um momento único da Democracia que tinha sido conquistada pelos homens de Abril. Em homenagem a estes, o dia 25 de Abril, foi considerado feriado nacional, com o nome: “DIA DA LIBERDADE”.

Por fim, quero só salientar que as fotos que escolhi para acompanhar este artigo, têm como denominador comum, as crianças que na sua inocência de espírito livre viveram o dia sem saberem o que estavam conquistando para o futuro, a LIBERDADE. Elas representam nas fotos, a idade que eu também tinha nessa altura. Eu, tal como elas, tinha acabado de conquistar a minha Liberdade sem o saber e sem saber o quanto ela é importante na dignidade humana.

 

Viva a Liberdade, Viva o 25 de Abril.

 

Tavares da Silva

LIBERDADE !

O CAMINHO ESTREITO DA LIBERDADE

Levar-nos-ia muito longe fazer uma análise profunda, filosófica e existencial do SER LIVRE.

De uma forma talvez simplista, que exigiria explicações complementares, poder-se-ia dizer que SER LIVRE não é a capacidade de poder fazer ou escolher tudo aquilo que se quer…

Fazer uma opção, tomar uma decisão é o primeiro e decisivo passo para exercer a Liberdade. Mas este acto não significa, como vulgarmente se diz ou se acredita, que ser livre é poder escolher entre o bem e mal.

O homem, ser racional, em teoria nunca poderia escolher o mal ou o menos perfeito, mas só o bem. A racionalidade do ser humano só poderá optar entre duas coisas boas ou que nos parecem como tal.

Então poder-se-á perguntar porque é que, muitas vezes, escolhemos o negativo, o mal, o menos certo e correcto. A única explicação que os cientistas do comportamento que estudam o cérebro humano e nele os lóbulos onde residem os neurónios que nos possibilitam as decisões está baseada no facto de que, quando alguém escolhe o negativo ou o mal, é porque vê e percepciona neles um bem, quer na área dos afectos, quer nas emoções, quer mesmo um “ benefício “ que essa escolha pode significar para a sua via ou realização.

A liberdade é pois a grande ,e talvez, a maior capacidade que o ser humano possui. Exercer a liberdade é a vivência mais profunda do ser racional.

Atingir a liberdade é o caminho mais complexo, difícil e que, muito poucos, conseguem assumir na sua plenitude.

Exercer a liberdade pressupõe tantas responsabilidades que muitos têm medo de tomar opções. Encontramos na vida demasiadas pessoas, talvez porque extremamente conscientes, excessivamente indecisas.

Os seres superficiais, demasiado emotivos ou pouco racionais, normalmente não têm dúvidas e decidem com imensa facilidade…

Perguntar-se-á : que tipo de decisões? As mais correctas ? As melhores ? Muitas vezes, infelizmente, não.

 

Perdoem-me , caros leitores esta minha incursão meio intelectual, meio filosófica. E se descêssemos ao concreto ? Pois seja.

1 - Só é verdadeiramente livre aquele que sabe respeitar a liberdade do outro. É essa linha invisível, mas real, que não poderemos pisar. A minha liberdade “ termina “ onde “ começa “ a liberdade do outro.

2 - A liberdade está definitivamente “ casada “ com a responsabilidade. Se não sou responsável nunca serei livre e vice-versa.

3 - A liberdade implica ser fiel à verdade. De facto há “ várias verdades “ a minha e a dos outros. Só é verdadeiramente livre aquele que sabe “ ouvir” e “ acolher “ a opinião do outro. Posso não estar de acordo mas a minha liberdade exige que respeite “ as verdades “ e as opiniões do outro.

4 - O autoritarismo, seja ele exercido pelos pais, professores ou educadores quer pelos poderes institucionais é o grande dinamizador de pessoas dependentes de seres “ escravos “ quer no pensar, no expressar ou no agir.

5 - A democracia sendo o mais difícil sistema de convivência humana, quer nas relações tu a tu, quer nas relações comunitárias, continua a ser o melhor caminho para educar para a liberdade.

6 - É neste sentido que me ocorre lembrar um célebre filósofo grego que em pleno dia, andava de lanterna acesa na mão, e, interrogado o que fazia, ele respondeu : “ Procuro um Homem “.

 

Apropriando-me desta história apetece-me dizer que, também hoje, mesmo com a lanterna acesa, não é fácil encontrar um verdadeiro e genuíno democrata. Ser livre e democrata não é para quem se diz ser mas só para alguns, infelizmente poucos…

 

7 - A liberdade nasce no coração de cada mulher e de cada homem mas não se confina ao mundo das nossas individualidades. Tem implicações nos nossos comportamentos e no saber estar nas vivência comunitárias, quer familiares quer sociais e vai mais além, abarcando as relações intercomunitárias , quer locais quer internacionais. Influencia o mundo da economia, do desenvolvimento, do progresso social, da construção da paz.

8 - A LIBERDADE chama-se PAZ , DESENVOLVIMENTO, CRESCIMENTO ECONÓMICO, PARTILHA, REDISTRIBUIÇÃO EQUITATIVA DA RIQUEZA.

 

Nesta hora decisiva da vida nacional onde é urgente um justo equilíbrio no usufruir dos bens económicos, dos bens do saber, da saúde, na construção da dignidade de cada português, Celebrar Abril não pode ficar-se por lembrar com saudosismo uma efeméride. É algo muito mais profundo e exigente.

Apostar na construção da liberdade individual e colectiva será sempre uma tarefa inacabada.

Cada Mãe, cada Pai, cada Educador, serão sempre e, prioritariamente, os responsáveis e artífices do processo educativo para a liberdade.

Às Instituições Públicas exige-se que respeitem a Família a Escola, a Saúde Pública , a Justiça e todas as áreas que promovem a dignidade de cada cidadão.

 

Abril de 2014

Alberto Correia

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