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É... Opinião

Nunca é tarde...

 

Em contraponto com Manuel António Pina quando diz: “Calma, é apenas um pouco tarde…“ e na linha do pensamento de Carlos Dummond de Andrade: “Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para diante vai ser diferente“, apetece-me hoje dizer NUNCA É TARDE…

Iniciar um novo ciclo autárquico  sugere sempre a forte esperança do recomeçar.

É sempre possível mudar, mesmo que seja um pouquinho, o que nos rodeia quando este processo se opera dentro de cada um. Só acredito nas grandes transformações quando um a um interiorizar que é preciso recomeçar um processo de mudança interior que a sabedoria Greco-Cristã  chamava  Metanoia.

Ao olhar à minha volta, percorrendo a minha freguesia, o meu país, não fecho os olhos a tantas situações de fragilidade, quantas vezes extrema:

Onze mil casais onde ambos estão desempregados (Novembro de 2012)

Pelo menos dois milhões de portugueses a conviver com alguém afastado de uma actividade remunerada.

Milhares e milhares de famílias no limiar da subsistência mesmo que ajudadas pela solidariedade de centenas de instituições, de milhares de mulheres, homens e jovens que voluntariamente se aproximam e vão ao encontro desta quase marginalidade.

Não fecho os olhos ao desamor que reina em tantas famílias: crianças sem afectos, violências domésticas declaradas e, muitas mais, escondidas.

Não fecho os olhos aos Lares de idosos que nascem como cogumelos que mais não são que armazéns onde a solidão, os maus tratos, quando não a falta de higiene e alimentos se acumulam num desespero que me revolta. Centenas já foram fechadas, milhares estão a ser fiscalizados. Onde estão os filhos que se calam, quando,uma simples denúncia seria o suficiente para que quem de direito actue?

Não me resigno perante uma emigração, por vezes, maltratada, uma juventude tão qualificada, criativa e inovadora que não encontra uma porta que se abra neste nosso país tão carenciado de empresas competitivas na gestão e nos bens produzidos e comercializados.

Neste mundo global em forte crise Portugal já de si tão fragilizado e desprotegido, caiu muito fundo…

Infelizmente não aprendemos com a história. Ciclicamente ficamos, aparentemente felizes, na expectativa da salvação que virá sempre de fora.

Foram as especiarias do séc. XVI e das descobertas; foi o ouro do Brasil que nos enfeitiçou com o seu brilho; foi a entrada no Euro que nos fez sonhar, mais uma vez, com uma nova Terra Prometida “onde jorrava leite e mel“.

Aqui chegados todos acusamos a todos. Nunca há culpados e, se os há, são sempre os outros, nunca nós…

Apesar de tudo: NUNCA É TARDE… A  quase todos parece  que chegamos ao fim da linha, que o precipício está já ali, que estão fechadas todas as saídas e todas as portas. Mas, dentro de mim, surge um grito de esperança que não é o que muitos para aí dizem um simples e ingénuo acto de fé inconsistente. É uma certeza: Nunca é tarde.

O tempo urge e já é tarde demais para nos distrairmos, quase alegremente,  apontando o dedo acusador a um qualquer bode expiatório, que os há, para ilusoriamente nos libertarmos duma culpa que solidariamente temos que assumir como nossa.

Para o bem e para o mal somos um povo com raízes profundas no ser e no estar. Porque lutamos contra os “moinhos de vento“?

A única solução para a nossa terra, para esta nação milenária que somos nós, é esta forte e duradoura crise.

Só ela nos tocará por dentro, dolorosamente, e nos fará ver quão loucas foram as nossas opções, os nossos comportamentos quer pessoais quer colectivos. Grijó para mal de todos nós e quase desânimo do novo executivo é um triste e desonesto exemplo da irresponsabilidade com foros de um juízo criminal.  

Se quisermos sair curados desta quase genética esperança que qualquer D. Sebastião, numa manhã de nevoeiro, nos virá, vindo de fora, salvar, temos que passar por este fogo quase cruel e muito, muito doloroso, mas purificador.

Já é tarde demais para nos convencermos que, de uma ou outra maneira, alguém nos salvará. É preciso este longo penar, esta aparentemente injusta e longa  crise para assumirmos que ou mudamos ou morremos. Não é possível continuar a percorrer os mesmos caminhos, alheados desta crua realidade.

Nunca é tarde se cada um interiorizar que há que assumir novas atitudes, saudáveis critérios, sábios comportamentos. A salvação estará sempre no mais profundo de cada um, no coração e na vontade.

Não olhemos para trás.

Temos que percorrer o longo, difícil, por vezes estreito caminho do amanhã.

Não o podemos fazer sozinhos. Nas bermas da estrada muitos parecem resignados, frustrados, sem esperança. Não passemos por eles com indiferença. Há que os convidar a reiniciar o caminho. Ninguém pode ficar para trás…

Mudados por dentro, liderados por uma nova e competente equipa autárquica constituída por mulheres e homens honestos e dinâmicos, trilharemos novas sendas, encontraremos mais cedo ou mais tarde uma “ Nova Terra e um Novo Céu “…

Nas horas de cansaço e desânimo é preciso, repetidamente, dizer, cantar ou rezar: NUNCA É TARDE…

 

 

É... Alberto Correia, 2 Nov.

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